\section{Brazilian Public Software versus Free/Open Source Software} \label{sec:spb} %TODO: Hilmer O software livre é considerado um fenômeno recente que ganhou destaque nos últimos anos e despertou maior interesse de observação por parte da academia. No entanto, desde o início da computação a maior parte dos desenvolvedores trabalhava da forma que hoje identificamos como software livre, ou seja, compartilhando código de forma aberta. Essa característica faz com que o código esteja disponível para inspeção, alteração, e utilização por qualquer pessoa, física ou jurídica~\cite{kon2012}, ~\cite{hippel2003}. Os elementos que diferenciam o software livre de outros tipos de software é o entendimento do processo de desenvolvimento, do contexto econômico, da relação entre os desenvolvedores e usuários, além das características éticas e legais que se relacionam ao software. No contexto do software livre é promovida a liberdade do usuário e seu desenvolvimento tem alicerce em colaboração e desenvolvimento aberto.\cite{meirelles2013}. Do ponto de vista econômico, diferentemente do que ocorre com o software proprietário, restrito, o software livre promove o estabelecimento de vários fornecedores que competem entre si com base no mesmo software. Essa competição mais forte entre fornecedores traz vantagens para os usuários, pois dá melhores garantias quanto ao desenvolvimento futuro do sistema e induz a uma redução nos preços. Essas liberdades e garantias sobre o software são estabelecidas no Brasil pela Lei 9610/98, lei de direitos autorais. Na sua maioria das vezes, essa proteção decorrente da lei segue aliada aos termos conferidos por um contrato atinente a determinado software. Esse contrato é denominado ``licença''. A licença de um software estabelece um rol de direitos e deveres que se projetam sobre um determinado usuário do software. Em especial, o que diferencia o software livre do software restrito é apenas a forma de licenciamento\cite{sabino2009}. As licenças de software livre são o que garantem o direito de executar, estudar, adaptar, e aperfeiçoar o software, como por exemplo as licenças \textit{GPL (GNU General Public License)} aceitas para projetos hospedados no portal do software público brasileiro. O Portal do Software Público Brasileiro (SPB), inaugurado em 2007, na prática, é um sistema web que se consolidou como um ambiente de compartilhamento de projetos de software. Oferece um espaço (comunidade) para cada software. Por isso, a atual plataforma para o SPB foi pensada para contemplar ferramentas que promovam a colaboração e a interação nas comunidades (por gestores, usuários e desenvolvedores) dos projetos, conforme as práticas usadas nas comunidades de software livre. Isso inclui listas de e-mail, fóruns de discussão, issue trackers, sistemas de controle de versão e ambientes de rede social. Inicialmente, o propósito do Portal era apenas compartilhar os softwares desenvolvidos no governo, visando diminuir os custos de contratação de software. Entretanto, se observou que ao disponibilizar os softwares rapidamente formaram-se comunidades em torno daquele software com diversas pessoas colaborando e compartilhando os resultados obtidos através do uso daquelas soluções. Dessa forma, algumas cooperativas de desenvolvimento de software e empresas privadas demonstraram o interesse em disponibilizar seus softwares na plataforma do SPB. O conceito de software público diferencia-se do de software livre em alguns aspectos, destacando-se a atribuição de bem público ao software e a obrigatoriedade do software estar no Portal do Software Público. Embora haja algumas diferenças entre o que é um software livre e um software público brasileiro, há princípios comuns, como a tendência da descentralização na tomada de decisões, o intenso compartilhamento de informações e os processos de retroalimentação decorrentes do uso dos artefatos produzidos. Por um lado, o software livre se apresenta atualmente como um modelo já consolidado e viável em um número crescente de aplicações e ambientes. Por outro lado, restam incertezas jurídicas e econômicas. Alguns desses desafios estão vinculados às barreiras criadas pelo modelo e cultura do software restrito~\cite{kon2012}. Além dessas, existem também as dificuldades para a entrada e a permanência de novos contribuidores nos projetos. A questão que motivou esta pesquisa é que essas dificuldades podem ser maiores no contexto dos projetos de software público brasileiro, devido à estrutura organizacional e aos processos do Governo Federal.