\section*{Introdução} \label{sec:intro} O Software Público Brasileiro (SPB) é um programa do Governo Federal Brasileiro para promover o compartilhamento e a colaboração em soluções de software livre\footnote{Neste texto, usamos o termo software livre como referente à Free and Open Source Software (FOSS).} para a administração pública. Um Software Público Brasileiro é considerado um bem público e o governo federal assume algumas responsabilidades relacionadas ao seu uso, mas tem os mesmos princípios de desenvolvimento de software livre, tal qual a tendência à descentralização na tomada de decisões, o compartilhamento de informações e do desenvolvimento (código-fonte), e a interação contínua com seus usuários. Em 2007, o governo federal lançou o Portal SPB com o objetivo de compartilhar projetos de software livre desenvolvidos pelo governo brasileiro. Adicionalmente, a Instrução Normativa (IN 04/2012) determina que os agentes públicos devem priorizar as soluções disponíveis no Portal SPB. Em suma, a aquisição de uma solução proprietária deve ser explicitamente justificada ao demonstrar que não há alternativa adequada no Portal SPB. Entretanto, desde 2009, o Portal SPB apresentou vários problemas técnicos. O código-fonte original da plataforma não estava mais sendo desenvolvido, e havia uma grande quantidade de dívidas técnicas para superar. Depois de alguns eventos e encontros para coletar os requisitos via os agentes do governo federal e da sociedade, foi desenvolvida, entre janeiro de 2014 e junho de 2016, uma nova plataforma para o Portal SPB, pela Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Ministério de Orçamento, Planejamento e Gestão (MP). O novo SPB foi projetado como uma plataforma integrada para desenvolvimento de software colaborativo, e inclui funcionalidades para redes sociais, listas de discussão, sistema de controle de versão e monitoramento de qualidade de código-fonte. Para coordenar e desenvolver esse projeto durante 30 meses, a UnB recebeu do Governo Federal Brasileiro um total de R\$ 2.619.965,00. O projeto foi desenvolvido por uma equipe de 3 professores, 2 estudantes de mestrado e cerca de 50 alunos de graduação (não todos ao mesmo tempo), juntamente com 2 designers profissionais e 6 desenvolvedores sêniors da comunidade software livre. Os professores e todos os estudantes de graduação eram da UnB e os mestrandos eram da USP. Quanto aos designers e desenvolvedores seniores, 7 dos 8 viviam fora de Brasília. Em outras palavras, nós tínhamos uma equipe trabalhando em um ambiente virtual colaborativo e distribuído. Todo o desenvolvimento foi feito de forma aberta, e as mudanças que precisávamos nas ferramentas foram devolvidas às suas respectivas comunidades. Nosso processo foi baseado em práticas ágeis e nos mecanismos empíricos das comunidades de software livre. Definimos ciclos de desenvolvimento e lançamos 5 versões do novo Portal SPB. A primeira versão (beta) foi disponibilizada em setembro de 2014, apenas 9 meses desde o início do projeto. O antigo portal foi desativado em setembro de 2015. Por fim, a última versão foi entregue em junho de 2016. Neste relato temos como agenda apresentarmos uma visão geral dessa nova geração do Portal SPB, bem como, compartilharmos nossa metodologia e processo de desenvolvimento desse projeto ao trabalharmos com o governo federal brasileiro para cumprir suas exigências, ao mesmo tempo ser o mais fiel possível às comunidades de software livre envolvidas. Além disso, discutiremos várias lições aprendidas para fornecer um ambiente virtual colaborativo e distribuído, envolvendo uma grande equipe de estudantes de graduação e desenvolvedores seniores remotos.